odor

drague o ar, não basta respirar, respirar profundamente, puxar o ar ou qualquer medida provisória ou paliativa

rompa os alvéolos pulmonares, esmigalhe sua caixa torácica com a força da expansão,

por fim exploda,

pois é a ultima vez que sente o perfume dela

Nunca vai embora

Os dias vão e vem numa dança inebriante

Soltos na canção do silêncio

Como um vírus canibal destruíste tudo

Profanaste o profano

Vulgar diabo

Monstro comum

Manipulador kamikaze

Da tua ilha de sal no deserto de arrependimento

Nem a morte te vislumbra

Os deuses nem sequer lembraram de te esquecer

E

Ainda assim

Nessa prisão, nesse abandono, nessa nem vida nem morte, nesse esquecimento sagrado, não passa um piscar de olhos sem que a imagem dela esteja tatuada na parte interna das tuas pálpebras, não uma respiração que não infle teus pulmões com a memória do perfume dela, esse é teu inferno, e o inferno é uma bênção

Dia 7

O que assusta é a simplicidade, é por isso também que é tão fácil ignorar, nosso ego é tão inflado que acreditamos que o processo de cura e auto descoberta é complexo  e difícil, cheio de pedras e coisas a serem superadas, mas é como um castelo de cartas, se você tirar uma carta o castelo desmorona, e podemos retirar a carta a qualquer momento, mas acreditamos que temos que empilhar mais cartas, criar mais estruturas. Somente nas ruínas do ego o lótus florescerá. Somos uma manifestação da luz primordial, carregamos a cada passo a luz, a paz e o amor que buscamos, já está aqui, não é algo que precise ser adicionado por meio de um ritual mágico ou uma descoberta filosófica. Essas coisas podem ressoar e até nos despertar para essa realidade, mas somente se aceitarmos que está no âmago, na nossa essência e não no objeto que ressoa ou que nos desperta. Essa crença é nociva por que fetichiza e limita nossa apreciação e acesso a luz interna, que ao invés de emanar naturalmente, passa a ser dependente do ritual ou insight para se manifestar. Louvados sejam os senhores da compaixão, a sabedoria da compaixão e o fractal divino.

 

Adendo: O sentido de reconhecer eles é manifestação da gratidão, reconhecimento de que me acompanham por um caminho que ativamente transformo numa odisseia, sendo eles pacientes e compassivos. Faço votos, a Sabedoria prevalecerá.

justiça universal

desperto, eu preciso das duas mãos, não fundamentalmente, no sentido de que como não tenho nenhuma função, nem objetivo, nem motivação, pra que mãos? mas ainda assim, eu observo elas, fico imaginando na dor que mãos me causaram, fico pensando na dor que olhares causaram, palavras, momentos, tudo muito sútil, subjetivo é a palavra? não, alguma coisa a ver com desmanchar no ar, intangibilidade? você (eu) não pode ficar se justificando pra sempre, pode? pré justificativas, pós justificativas, durante justificativas, quem sou eu afinal? o devorador de vida? o moedor de sonhos? Deus? um som agudo e desagradável explode na minha mente, elas gosta de pregar peças, para me animar, afinal é minha unica companheira e apesar dos pesares, me ama. Como um pouco de medo, minha futura carne, minha ancestralidade, nossa consanguinidade, nosso segredo, sentimos tanto medo que traímos o universo, no seu projeto inefável de auto compreensão, somos os rebeldes, buscamos todo conhecimento externo, todos os insights fora da nossa cabeça, como? como olhar no espelho sem se desmanchar? guiados por medo, criamos a sabedoria da ignorância, a elevação espiritual do inferno, a coragem do medo, o amor do ódio, a amizade da dependência doentia, eu e você, nós! não que tenhamos criados, apenas somos a nova geração, seremos proeminentes pensadores, filósofos, lideres religiosos, cientistas! Deuses!!! canibais? não, não, canibais se alimentam de seus iguais, e nós não fazemos isso, nós predamos a felicidade do mundo, nós parecemos humanos, nós nos vestimos, nos limpamos, vamos a escola, vamos a universidade, trabalhamos, fazemos amigos, somos admirados, reconhecidos, cabemos perfeitamente na humanidade, e de dentro, como um câncer, apodrecemos tudo, devoramos, arrancamos tudo, sujamos, criamos infernos particulares, continuamos até não sobrar nada, até exaurirmos definitivamente todos os recursos, devoramos as pessoas boas e más, somos a justiça universal da ignorância.